A Associação Cultural Maracatu Nação Fortaleza, fundada em 25 de março de 2004, participa do carnaval de rua desde 2005 e obteve a segunda colocação na categoria Maracatus nos anos de 2009, 2010 e 2012, tendo realizado, durante os anos de 2010 e 2011, o projeto Maracatu Nação na Grande Fortaleza, contemplado nos editais de incentivo da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e da Secretaria de Cultura de Fortaleza, na categoria circulação. O projeto foi dividido em duas etapas com abrangência de 14 localidades da região metropolitana e circulou pelos municípios de Maranguape (Coité), Maracanaú (aldeia Pitaguary e sede), Caucaia (Jandaiguaba), Guaiuba, Eusébio, Pacatuba, Cascavel (Moita Redonda), Aquiraz (aldeia Jenipapo-Kanindé e sede), Horizonte (quilombola Alto Alegre), Itaitinga, Pindoretama e Pacajus.
Como resultado destas atividades de convivência e difusão do maracatu e seus aspectos históricos e estéticos em municípios do entorno da capital cearense, o Maracatu Nação Fortaleza percorreu praças, pontos de cultura, centros culturais, quilombolas e comunidades indígenas propondo um diálogo permanente, enfatizando a consolidação das práticas formadoras da cultura do povo cearense a partir da contribuição de negros e índios, ao mesmo tempo fortalecendo a permanência do maracatu como expressão cultural de relevo na história do Ceará.
Inspirado na convivência e nos cortejos realizados no projeto Maracatu Nação na Grande Fortaleza em territórios quilombolas e comunidades indígenas de Alto Alegre (Horizonte), Coité (Maranguape), Aldeia Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), Jandaiguaba (Caucaia) e Santo Antônio do Pitaguary (Maracanaú), o tema Maratoré Torecatu ressalta a valiosa contribuição dos elementos negro e índio na formação do maracatu a partir dos movimentos de dança possibilitadores da junção dos termos Maracatu e Toré, resultando na criação dos neologismos Maratoré e Torecatu, os quais se ajustam às inovações propostas pelo Maracatu Nação Fortaleza desde seu surgimento como grupo cultural no carnaval de rua.
Maratoré Torecatu é a mescla dos movimentos de corpos negros e índios em suas danças ritualísticas, a junção dos aspectos religiosos advindos do candomblé e da umbanda, a presença dos elementos da natureza na sagração dos orixás e na pajelança, a celebração da grandeza dos povos formadores da afro-cearensidade e da cultura cabocla encontradas no maracatu, é a gira sagrada e profana, momento de realce do legado de afro-brasileiros e nativos como pilares de sustentação do maracatu, cuja composição revela-se retrato fiel da união destas raças ainda nas senzalas e aldeias e também a partir de seu encontro nos quilombos, em defesa de sua integridade física, cultural e territorial e na luta pela liberdade.
Perseguindo a ideia de destacar o legado de negros e índios como fundamental para o merecido lugar de destaque do maracatu enquanto expressão da cultura do povo cearense, o Maracatu Nação Fortaleza se propõe ressaltar aspectos da dança, da musicalidade com ênfase na participação coletiva e canto tribal, a pintura de corpos inspirada no ambiente imagético indígena, os adereços característicos e os figurinos realçando a realeza da negritude inspirada nas coroações de reis negros como reprodução de ritos católicos europeus, sugerindo um olhar reconhecedor a estes elementos na formação de nossa identidade cultural.
Maratoré Torecatu é beira de rio e beira de mar, é ao mesmo tempo Iara e Iemanjá, axé e caboclo de pena, pajé e orixá, maracá, cauim e jurema, preto velho e cunhã sob as bênçãos de Olorum e Tupã para quem se bate o pé com a força e a fé. Maratoré Torecatu é ao mesmo tempo Zumbi e Iracema, o machado de Xangô e o arco e flecha de Ubirajara, matrizes de nossos modos e fazeres, saberes e cantares, rituais sagrados do sentimento de pertença e encontro com nossa ancestralidade.