CABEÇA DE NEGRO

IEMANJÁ, A RAINHA DO MAR

IEMANJANAINA - Calé Alencar

"Iemanjá, é a rainha do mar"

São versos de uma antiga canção, a me acompanhar por longos anos e sempre lembrada nos dias de festa na Praia do Futuro e, mais recentemente, na Praia de Iracema, quando chega o dia 15 de agosto. Em Salvador, coração pulsante da África no Brasil, a rainha do mar é comemorada em 2 de fevereiro. Em Fortaleza, a festa é no mesmo dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Assunção.
Os tambores estão afinados para a festa. Descem os da macumba, da umbanda, do catimbó, o povo dos terreiros da periferia da cidade, e vão todos à beira da praia, saudar a mãe Iemanjá, pedir a bênção, cantar e dançar. Pés descalços, o samba é animado na areia quente, que a festa começa ainda de manhã, o sol queimando, um mergulho até que é bom. Tibungo. Vem gente de todo canto, de todo jeito. Desde que a festa acontece, por criação natural do povo de espírito afro-brasileiro na terra do Zé de Alencar, é um ruge-ruge danado. Nos tempos antigos, a festa ficou restrita à Praia do Futuro, quando o pessoal dos terreiros ia se reunir na parte velha da praia, entoando pontos, fazendo soar os atabaques, o troar dos tambores, o transe.
Há alguns anos, além da ocupação de um trecho da Praia de Iracema, a realização do evento vem sendo feita pela União Espírita Cearense, que congrega adeptos de todos os credos, possíveis e imagináveis.

Organizados em caravanas, com transporte geralmente conseguido em sistema de mutirão, quando não cedido por algum político ou candidato, os adeptos de Iemanjá aproveitam a oportunidade para festejar com a ocupação do espaço público. Estão na beira da praia, mostram aos passantes e à cidade o que na maior parte do tempo celebram em casas com pouquíssimo conforto, cubículos espalhados pelos mais diversos bairros da cidade, onde habitam muitas das vezes em condições de precariedade absoluta.

Nestas condições de adversidade e precisão, acontecem os rituais que misturam a religiosidade afro-descendente e a pajelança de nossos índios. Os terreiros abastados são ainda muito poucos, poucos os pais-de-santo em condições de vida razoável. A maior parte da massa que participa do festejo é mesmo de gente da luta, que junta os tostões e parte pra vida, precisando crer em alguma coisa pra não sucumbir de vez. Bufo.

E vai chegando o povo, do Bom Jardim, do ‘Tranquedo’, do Bom Futuro, da Maraponga, Parque Araxá, Itaoca, Serrinha, Álvaro Weyne, Parangaba, Porangabussu, Bela Vista, Antônio Bezerra, Otávio Bonfim, Floresta, Benfica, Mondubim, Messejana, Carlito Pamplona, Canindezinho, Cajazeiras. Chegam os do Amadeu Furtado, do Km 8, Pan Americano, Barra do Ceará, Jardim Guanabara, Conjunto Palmeiras, Zé Walter, Passaré, Pici, Pirambu. Vem o povo da Gentilândia, da Braga Torres, Jacarecanga, Jurema, Jardim Jatobá. E chega gente, chega gente, chega gente. Gente que só quer feliz, o dia inteiro na praia, entoando loas, saudando a mãe das águas, Iemanjá, a rainha do mar.

DONA JANAÍNA, PRINCESA DE AIOCÁ

Calé Alencar & Afrânio Rangel - Loa do Maracatu Nação Baobab - Carnaval de 2004
A minha guia é de conchas do mar
Linda sereia
Minha mãe Iemanjá
O Meu maracatu, Janaína, é Nação Baobab
Meu maracatu, Janaína, é Nação Baobab
Eu sou a terra girando
Eu sou a força, a paz e o amor
Eu sou a luz
Pra luzir no seu caminho
Pra benzer o seu destino
Sou Princesa de Aiocá
Sereia, sereia
Sereia do mar
Sereia que vive nas ondas do mar
Vem cá, sereia
Sereia, vem me buscar
Sereia, me leva pras ondas do mar
Dona Janaína
Iemanjá
Rainha do Mar
Princesa do Mar
Princesa de Aiocá
Sereia, Sereia do Mar
Olôxun
Dona Maria
Sereia Mucunã
Inaê, Marbê
Dandalunda
Dona Janaína, Princesa de Aiocá.